terça-feira, 4 de outubro de 2011

Epatáveis


Apesar de não termos ilusões quanto ao caráter das nossas elites, existia uma certa resistência a essa espécie de niilismo a que o Brasil nos leva. Os escândalos na área financeira estão acabando até com isso. Fica cada vez mais difícil espantar os burgueses. Os burgueses não se espantam com mais nada. Alguns talvez se surpreendam quando ouvem um filho pequeno ou um neto repetindo uma letra dos Mamonas, mas nestes casos o espanto é divertido, ou pelo menos resignado. A necessidade de se ser absolutamente claro sobre que tipos de atividade sexual causam AIDS e como fazer para preveni-la acabou com qualquer preocupação da imprensa e da propaganda com o pundonor (grande palavra) alheio, embora ainda façam alguns rodeios. A linguagem ficou mais leve, ficamos menos hipócritas. Burgueses epatáveis ainda existem, mas o acúmulo de agressões a seus ouvidos e pruridos os insensibilizou e hoje, se reagem, não é em público.

(VERÍSSIMO, L. F. CONLUIO. Porto Alegre: Extra Classe, junho/julho de 1996. p.3).

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